sábado, 30 de agosto de 2008

A lenda do Biguá


Entre os índios guaranis é conhecida uma lenda sobre o Biguá.
Conta-se que era um índio muito forte e jovem que vivia feliz com sua bela esposa chamada Yerutí, em sua choça, nas proximidades de um grande rio. Entretanto, a beleza da jovem despertou a cobiça de Capiberá, outro guerreiro índio, possuidor de uma índole muito má. Aproveitando-se da ausência de Biguá, que havia saído para pescar, raptou Yerutí e levou-a para bem longe, amarrada em uma canoa.
Ao retornar, não encontrando sua amada esposa, foi avisado que seu desaparecimento era obra de Capiberá. Desesperado, parte em busca de seu inimigo. Perseguido por Biguá, Capiberá foi alcançado e morto. Entretanto, sua frustração foi intensa, quando sua companheira não foi encontrada. Partiu imediatamente, buscando-a por todos os lugares que conhecia. Gritou em altos brados o nome de Yerutí, às margens do rio, no interior da selva, mas somente o eco devolvia seu angustioso chamado.
Vencido pelo cansaço e pela falta de esperança de encontrar sua esposa com vida, jogou-se nas águas profundas do rio, porque suspeitava que justamente ali teria perecido a bela Yerutí. Buscou-a mergulhando profundamente no rio, na selva, mas só o eco devolvia o seu angustioso chamado. Vencido pelo cansaço, começava acreditar que havia perecido sua amada Yerutí. Depois de algum tempo, seus irmãos da tribo avistaram uma ave negra que voava insistentemente sobre a choça que haviam morado o feliz casal, para em seguida embrenhar-se na selva e se jogar nas águas do inquieto rio. Ao consultarem o feiticeiro, esse garantiu que o tal pássaro era Mbiguá que transformado em ave seguia buscando sua doce companheira.
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Esta é uma linda lenda que nos fala sobre o amor das aves.
Os pássaros, sem dúvida, amam como nós e talvez com mais ternura e devotamento.
Em algumas espécies, os casais nunca se separam, pois grande é a intimidade que os une. Todos que conhecem o comportamento das aves na natureza, sabem que não estou poetizando. Se um se separa do outro distraidamente e desse torna-se oculto, o que dá falta do companheiro trata de perguntar por onde ela anda. Logo se comunicam e, embora não se vejam, cada qual fica tranqüilo, mas nunca antes de repetir a "pergunta" e receber, infalivelmente a "resposta".
Caso algum desalmado caçador venha abater um dos cônjuges, podemos observar uma cena pungente. O viúvo lança seu apelo lamentoso, chama inquieto o seu par, corre por todos os cantos, não tem mais sossego nem cuidado com sua pessoa, não mais se esconde, como que suplicando ao caçador que o mate também, pois sua vida não tem mais sentido.
Felizes somos todos nós que nos foi dada a oportunidade de conhecer tão maravilhosas lendas!
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Tanta, obrigada pelo award! Já está no meu Baú Cintilante!
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sábado, 16 de agosto de 2008

Anhangá - Alma do Mato


Do tupi-guarani, "anhang", significando: ang - ALMA e nhã - CORRER; ou seja, "uma alma que corre".
O Anhangá é portanto, um espírito, e como tal, "invisível" que vive e corre nas matas, protegendo os animais e seus filhotes.
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O Anhangá pode apresentar-se sob a forma de um pássaro (galinha do mato), rato (soiá), morcego, macaco (jurupá). É também identificado como um veado branco com olhos de fogo com uma cruz no meio da testa, dotado de espírito andarilho, com a missão de proteger os animaizinhos nos prados, mas principalmente as fêmeas prenhas. Se bem que seja essa sua aparição mais comum, encontram-se no fabulário da região norte diferentes formas de sua presença: Mira-anhangá, Tatu-anhangá, Suasu-anhangá, Tapiira-anhangá, ou seja, visagem de gente, de tatu, de veado e de boi.
Em qualquer caso e qualquer que seja visto, ouvido ou pressentido, o Anhangá traz para aquele que o vê, ouve ou pressente certo prenúncio de desgraça, e os lugares que se conhecem como freqüentados por ele são mal-assombrados.
Nas cartas dos padres José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim fala-se de Anhanga como de um espírito malfazejo, temido pelos indígenas. O certo era atormentar os viventes. Onde a mesma assobia, a caça desaparece como por encanto. Para evitá-la, deve-se acender foguetes com duas ou três cargas, antes de entrar na mata. Outra maneira, é a defumação com a castanha de caju ou ainda, a maneira mais fácil, é fazer uma cruz de madeira encontrada na própria mata.
O caçador desprevenido que que aproximar-se o anhangá achando que é um veado e tentar abatê-lo, terá uma desagradável surpresa, pois expelindo fogo pelos olhos, o atacará com incontrolável fúria, despertando um pavor de morte.
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A LENDA :
Os negros Ba Kamba contam que um caçador encontrou dois antílopes que estragavam sua roça, e matou a fêmea e levou-a para a aldeia.
Apesar de morta, esfolada, preparada, levada para o fogo, a antílope conservava a voz humana e perguntou para onde a levam. Assando, ainda fala. Quem comeu da antílope morreu. Sacudiram o resto no mato. Imediatamente o corpo se recompôs e a antílope, sã e completa, reganhou, numa carreira veloz, a floresta.
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A crença geral é que um veado, saindo do mato, anuncia um acontecimento grave...se não for abatido com um tiro certeiro. Os Ba Kamba dormem em redes e durante a noite, uma fogueira permanece acesa ao lado da rede. E, mesmo para fazer suas necessidades, os selvagens não gostam de sair das cabanas sem levar uma tocha, tamanho o medo que sentem do demônio chamado por eles de Anhangá, que acreditam ver com freqüência.
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Eu é que não vou para a mata tirar essa história à limpo!
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Obrigada pelo award, Anjo das Frases!
Já está no meu Baú Cintilante!
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Bom final de semana!

sábado, 9 de agosto de 2008

Alamoa - a fada rainha


Era Fernando de Noronha, em tempos longínquos, um lindo reino encantado de fadas.
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Havia na ilha uma rainha-fada loira, de beleza deslumbrante. Seu palácio magnífico, situado no alto de uma colina verde, era um eterno deslumbramento.
Todos os dias, das manhãs ensolaradas, a fada-rainha de cabelos cor de ouro passeava pelos seus vastos domínios, que seu poder cobria de palácios, de primavera e flores. Nunca faltavam, pendentes das ramadas, a policromia das inflorescências e a abundância das bagas amadurecidas. A renda das espumas do mar era um bordado contínuo em torno da ilha, uma delicada teia que se fazia e se desfazia. Mas as quilhas das caravelas começaram então a sulcar e desvirginar as águas do Atlântico, além da linha do Equador. O Cruzeiro do Sul começou a ser avistado por olhos estrangeiros. O reino encantado, desencantou-se. Os palácios foram convertidos em massas negras de basalto e suas galerias foram transformadas em rochedos.
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Mas a fada-rainha loira não deixou sua amada ilha. Seu palácio soberbo foi metamorfoseado no Pico e hoje ainda vaga pelos montes e praias da ilha. Por vezes, surge montada em cães selvagens que vivem nos altos montes, como o morro Francês e o monte Espinhaço do Cavalo, soltando longos e sinistros uivos. É a fada-rainha Alamoa, que vai passando! Todas às sextas-feiras, a pedra do Pico se fende, e na chamada Porta do Pico aparece uma luz. A fada Alamoa sai para visitar as redondezas. A luz atrai sempre muitas mariposas e também a todos que passeiam próximos ao lugar. Quando um desses se aproxima da Porta do Pico, vê uma mulher loira, nua, com o corpo coberto só pelos seus cabelos que descem quase ao chão.
Os habitantes de Fernando de Noronha chamam-na Alamoa, corruptela de alemã.
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A Alamoa é uma fada que após a ocupação batava, no século XVII, resolveu vingar-se da invasão humana aos seus domínios. Aparece a qualquer passante incauto como uma mulher extremamente sedutora e o chama com uma voz quente e apaixonante. Todo aquele que não resiste a sua fascinação é levado até a Porta do Pico. Entretanto, quando o homem escolhido está crente de ter entrado em um palácio, para usufruir das delícias daquele corpo fascinante, a Alamoa se transforma de repente em uma caveira. Os seus lindos olhos, que tinham o brilho das estrelas, agora são dois buracos horripilantes. A pedra do Pico se fecha e o louco apaixonado desaparece para sempre. A angústia de seus últimos gritos ainda ressoará por alguns dias, escapando-se das fendas profundas do monte e indo misturar-se ao uivo dos cachorros selvagens e ao silvo dos ventos do sueste.
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Alamoa, de acordo com os relatos é uma fada solitária que teve penetrado, sem o seu consentimento, o seu reino encantado. O homem ao perturbar a ordem e a harmonia das coisas, atrai para si a hostilidade da natureza, sendo assim, a linda fada ofendida com a atitude humana, pode metamorfosear-se em uma bruxa repugnante. A fada sabe o que é bom para ela e o que é bom para nós. Ela é o espelho de nossa alma, que pode ser bela ou feia, dependendo do nosso interior. Aceitá-la do modo que se apresenta, nos conduzirá para a grande realização de nós mesmos.
- Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto -

sábado, 2 de agosto de 2008

As Encantadas

As sereias são servas da Deusa da Morte (Perséfone) e foram encarregadas de levar-lhe almas. Este é o motivo pelo qual atraem marinheiros com o poder arrebatador de seu canto, levando-os à destruição nas rochas que se ocultam nas águas de seu recanto costeiro.
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As Encantadas são Deusas-Sereias do mar e como tais, nos mostram o elemento destruidor negativo que pode se manifestar quando seguimos irrefletidamente intuições e inspirações. Isso nos parece familiar quando pensamos nos artistas e pessoas criativas que se destroem por darem ouvidos a essas vozes espectrais, deixando-se arrastar pelas "Sereias" que habitam a nossa psique. Já outros, entretanto, são capazes de usar a intuição de forma positiva e, por vezes, uma torrente de energias criativas parece derramar-se deles.
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Várias tribos indígenas se espalharam pelas planícies e planaltos do Paraná. Diante da beleza de sua geografia, os índios não se contentaram em apenas admirá-las, queriam saber a origem das cachoeiras, rochedos, grutas, fauna e flora. Assim, com os recursos de sua cultura, seus valores e seu imaginário, surgiu a Lenda das Encantadas:


Contam os Caigangues do Paraná, que há muito tempo atrás, na Praia das Conchas, ao sul da Ilha do Mel, na Gruta das Encantadas, viviam lindas mulheres que bailavam e cantavam ao nascer do Sol e ao crepúsculo. Dizem que o canto delas era inebriante, dormente e perigoso para qualquer mortal. Se um pescador as escutasse, por certo perderia o rumo de sua embarcação, indo bater nas rochas e naufragar. Entretanto, certa vez, um índio corajoso e destemido aventurou-se a tentar se aproximar delas. Colocou-se à espreita no alto do rochedo.
Quando os primeiros raios multicoloridos de luz despontavam ao leste, o jovem começou a ouvir a suave e doce melodia proveniente do interior da gruta. E mulheres nuas, desenhadas de sombras, foram surgindo. À medida que as bailarinas alcançavam a boca da gruta, o canto tomava mais ênfase, mais intensidade.
Estranhamente o índio não adormeceu, justo o contrário, não desgrudou o olho do belo ritual. As misteriosas moças eram dotadas de tão rara beleza, nuas e com longos cabelos de algas, que o intruso acabou fascinado por uma das dançarinas, a que tinha os olhos cor de esmeralda. Tal era o seu fascínio, que despencou do rochedo, ganhou aos trambolhões a prainha, metendo-se de permeio na farândola, acabando de mãos dadas com a sua escolhida. Declarou-se apaixonado por ela, e confiou-lhe o seu desejo de permanecer a seu lado por toda a eternidade. A bailarina alertou-o de que para ficar com ela teria que morrer e ele reafirmou o seu desejo de ficar com ela por toda a eternidade.
- Vem, então, meu doce amor... A fonte da vida nos chama... partamos...
Mãos entrelaçadas, ao canto fúnebre das dançarinas, os jovens entraram águas adentro e quando desapareceram, já o sol era vitorioso.
As Encantadas sumiram nas águas profundas, para nunca mais aparecer
. E, desde então, a gruta está solitária, e nela ecoam se quebram os ecos dolentes e eternos do mar.
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No próximo sábado, a Lenda da Alamoa – a fada rainha.
Bom final de semana!